O ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, preso em regime domiciliar no Rio, afirmou na quarta-feira (8), em depoimento à Justiça Federal do Paraná, que parte da propina cobrada de fornecedores da estatal era direcionada para atender a PT, PMDB e PP.
O G1 obteve o áudio no qual Costa diz ao juiz federal Sérgio Moro, responsável pelo processo da Lava Jato na primeira instância, que as diretorias comandadas pelos três partidos recolhiam propinas de 3% de todos os contratos. O ex-dirigente explicou como funcionava a divisão da propina entre as legendas partidárias.
Segundo o ex-diretor, o PT recolhia para o seu caixa 100% da propina obtida nas diretorias que a sigla administrava, como, por exemplo, as de Serviços, Gás e Energia e Exploração e Produção. No depoimento desta quarta, ele contou que, quando se tratava de diretorias administradas pelo PP, o Partido dos Trabalhadores ficava com dois terços da propina, e o restante era repassado para a legenda aliada.
“Olha, em relação à Diretoria de Serviços [comandada por Renato Duque], todos sabiam que 3% [cobrados de propina] eram para atender ao PT. Através da Diretoria de Serviços. Outras diretorias, como Gás e Energia e Exploração e Produção, também eram PT”, declarou Costa à Justiça Federal.
Costa também afirmou ao juiz federal que o PMDB, que costumava indicar o diretor da área internacional da Petrobras, também obtinha uma parte do rateio da propina. Ele, no entanto, não detalhou qual o percentual que ficava com os peemedebistas.
“A diretoria internacional tinha indicação do PMDB. Então, tinha recursos que eram repassados para o PMDB, na Diretoria Internacional”, enfatizou.
Paulo Roberto Costa ocupou uma cadeira na diretoria da Petrobras entre 2004 e 2012, nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Ele foi preso em março pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, sob a acusação de integrar a quadrilha comandada pelo doleiro Alberto Youssef. Após fazer acordo de delação premiada com a Justiça, Costa foi autorizado a ficar em prisão domiciliar.
Durante o relato à Justiça Federal, Costa disse que foi indicado para a Diretoria de Refino e Abastecimento pelo Partido Progressista (PP). De acordo com ele, o antigo líder da bancada do PP na Câmara José Janene – um dos réus do processo do mensalão –, teve influência na sua escolha para o cargo. Janene morreu, em 2010, antes de ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal.
Paulo Roberto Costa explicou ao juiz federal que, até 2008, era Janene quem operava a fatia da propina que cabia ao PP. Segundo ele, a legenda aliada ao governo Dilma ficava com um terço do valor dos contratos fechados pela diretoria de Refino e Abastecimento, a qual ele comandava. Os outros dois terços, relatou o ex-dirigente, eram repassados ao PT.
Da cota do PP, detalhou o ex-diretor, 60% eram repassados para a direção do partido, 20% eram usados para emitir notas fiscais e outros 20% eram dividos entre ele e Janene.
“Eu recebia em espécie. No shopping ou no escritório, depois que eu abri a consultoria.”
De acordo com o Jornal Hoje, a assessoria do PT informou que, por enquanto, não se manifestará sobre as denúncias. A assessoria do PP informou que desconhece o conteúdo das denúncias, mas o partido está disposto a auxiliar nas investigações. O PMDB informou que não vai se manifestar porque não teve acesso ao conteúdo da delação.
Segundo Paulo Roberto Costa, os ex-diretores Renato Duque (Serviços) e Nestor Cerveró (área internacional) participavam do suposto esquema de pagamento de propina montado na empresa, do qual ele próprio se beneficiava.
O ex-dirigente também destacou que o antigo colega da diretoria de Serviços havia sido indicado para o cargo pelo ex-ministro José Dirceu, condenado no processo do mensalão por corrupção ativa. Segundo ele, Cerveró foi indicado pelo PMDB.