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BRASILEIRO QUER MUDANÇAS, MAS DEVE DAR SEGUNDA CHANCES A 13 GOVERNADORES

Atraído pela música alta e curioso para ver quem fazia a algazarra em uma das ruas do setor comercial sul de Brasília, um garoto de 12 anos corre em direção a uma passeata de candidatos a governador, deputados e senador do Distrito Federal. Quando está a poucos metros do grupo, a mãe dele sai da loja em que trabalha como vendedora e grita: “Marcelo, não se junte a eles. Tem muito político aí. Eles vão te roubar”. O garoto para no meio do caminho, em dúvida, e as testemunhas caem na gargalhada.

A mãe do rapazinho é Mariana Dias, de 38 anos. É mais uma das dezenas de milhares de brasileiros que estão inconformados com os rumos do país, que pede por mudanças, mas que vota pela reeleição. “Participei dos protestos do ano passado, mas vou acabar votando no atual governador e na presidente, mesmo. Acho que por falta de boas opções”, justificou-se a vendedora.

Esse aparente contrassenso aparece nas mais variadas pesquisas. A última que mediu a percepção do eleitor, feita em junho pelo Datafolha, mostrou que 74% dos brasileiros querem mudanças na política. Já os levantamentos eleitorais do mesmo instituto e do Ibope pelas 27 unidades da federação mostra que 13 dos 16 governadores que tentam a reeleição têm chances de sucesso. Alguns deles, inclusive, já podem ganhar na primeira etapa. Os únicos que devem ficar fora do segundo turno são os governadores do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e do Amapá, Camilo Capiberibe (PSB), que estão em terceiro nas pesquisas, e Sandoval Cardoso (SDD), no Tocantins, já que quem lidera as sondagens tem 50% das intenções de votos.

Se esses 13 governadores se reelegerem, o índice de reeleição será igual ao de 2010, quando 13 governantes obtiveram uma nova oportunidade de continuar no cargo. Naquela ocasião, ao contrário da atual, o cenário econômico brasileiro era melhor. “Quem já está no poder tem mais tempo de exposição na mídia, mais tempo na propaganda de rádio e TV e costuma ter alianças mais amplas. Isso tudo influencia no voto”, analisou o cientista político Pedro Arruda, professor da Pontifícia Universidade Católica.

Outro ponto destacado por esse especialista é a falta de consenso sobre as mudanças que os cidadãos querem. “Uma coisa é perguntar se as pessoas querem mudanças. A maioria vai dizer que sim. Quase todos os partidos defendem a reforma política e ela é uma mudança drástica. Mas uns querem a reforma de uma maneira e outros de outra. E assim é nossa sociedade. Ou seja, duas pessoas podem concordar que as mudanças são necessárias, mas discordam sobre o tipo”, ponderou.

O que costuma ocorrer, segundo Arruda, é que o governador que passa para o segundo turno enfrenta uma espécie de plebiscito que diga, informalmente, se seu governo foi considerado positivo ou não. Esta é a quinta eleição em que os mandatários de cargos no Executivo podem concorrer à reeleição. São raros os governadores que não o fazem. Neste ano, por exemplo, apenas Rosalba Ciarlini (DEM) do Rio Grande do Norte, não botou seu nome à prova. Com um índice de rejeição que beira os 70%, ela não quis se arriscar e decidiu não concorrer.

Outro analista político, o professor Fernando Azevedo, da Universidade Federal de São Carlos, acredita que o sopro da mudança que veio dos protestos de junho de 2013, diminuiu. “A partir do momento que todos dizem que vão mudar, a população começa a enxergá-los da mesma maneira”, disse Azevedo. No plano nacional, por exemplo, os três principais candidatos à presidência, Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB), e Aécio Neves (PSDB) usam a palavra “mudar” em seus slogans ou discursos. “Ao que me parece, as pessoas querem que os atuais governos implantem as mudanças necessárias”, completou o especialista. 

Por: Afonso Benites, El País – Blog do Noblat


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