O PALHAÇO
Ontem viu-se-lhe em casa a esposa morta,
E a filhinha mais nova tão doente,
Hoje o patrão vai lhe bater à porta,
Que a platéia o reclama impaciente.
Mas tarde ao palco surge e pouco importa,
O seu pesar aquela estranha gente,
Aos sons das ovações que os ares corta,
Trejeita e canta e rir nervosamente.
Aos impulsos do público ele trabalha,
Escondendo no manto em que se embuça,
A cruciante angústia que o retalha.
No entanto o seu pesar mais se aguça.
Enquanto o lábio trêmulo gargalha,
Dentro do peito um coração soluça.
Padre Antônio Tomás.