Homenagem a João;
Sem João, cobre o luto a nossa praça,
A saudade é imensa e enfadonha,
A cidade Princesa está tristonha,
Pica Pau de Princesa está sem graça,
Quem falou de pomar, mel e cabaça,
Do perfume da flor após se abrir,
Não vai mais doravante permitir,
Que curtamos seu verso e sua voz,
JOÃO CALOU-SE DE VEZ PERANTE A NÓS,
FOI CANTAR O SERTÃO PRA DEUS OUVIR.
Quantas vezes vi João se inspirar,
No gibão arranhado do vaqueiro,
Na fumaça da luz do candeeiro,
Respingando na ripa até pintar,
Numa junta de bois a trabalhar,
Transportando uma carga sem sentir,
O ferrão do carreiro lhe atingir,
Os torrões machucar-lhes os mocotós,
JOÃO CALOU-SE DE VEZ PERANTE A NÓS,
FOI CANTAR O SERTÃO PRA DEUS OUVIR.
Deus levou meu poeta, meu irmão,
Que cantou cafundó, serrado e gleba,
O canhoto perfeito, o João do peba,
Malassombro do verso e do baião,
Que foi peso pesado pra TIÃO,
IVANILDO, GERALDO, e MOACIR,
O parceiro recente de VALDIR,
Que se fez o maior entre os heróis,
JOÃO CALOU-SE DE VEZ PERANTE A NÓS,
FOI CANTAR O SERTÃO PRA DEUS OUVIR.
Ontem a tarde durante o seu cortejo,
Houve choro, lamento e emoção,
Outro enterro naquela dimensão,
Nem vivendo cem anos mais, eu vejo,
O autêntico poeta sertanejo,
Que o Brasil teve gosto de assistir,
Numa escada de luz eu vi subir,
Encravando em meu peito a dor atroz,
JOÃO CALOU-SE DE VEZ PERANTE A NÓS,
FOI CANTAR O SERTÃO PRA DEUS OUVIR.
Por: Diomedes Mariano