Exercício de Serenidade
Poucos se quedam, cismativo, junto ao altar da vida. Antes, deixam-na passar quase indiferente, como quem observa pela janela um carro a correr na estrada.
A vida, porém, é feita de circunstâncias e emoções, ponderações e lutas, compreensões e agradecimentos.
O homem sensato, ao abrir os olhos pela manhã, vendo-se no aconchego do lar, deve agradecer a Deus, porque muitos despertam em leito de hospital e não sabem quando terão alta e poderão voltar para casa; talvez nem saiam dali com vida.
Deve agradecer, inclusive, pela luz que vem da janela, porque há milhares que vivem nas trevas e jamais conseguirão ver as cores e distinguir as formas.
Ainda na cama e sentindo sono, é possível organizar mentalmente as tarefas a ser executadas durante o dia; outros nem conseguem pensar direito, porque lhes falta o sentido da razão;
E, após o café da manhã, sair caminhando pelas ruas, cumprimentando os amigos, em direção ao trabalho, quando se sabe que, não muito longe dali, há quem não tenha o que comer, outros vivem em cadeira de rodas ou sobre uma cama desconfortável e com olor nauseabundo, muitos perderam a paz e não podem ir às ruas e uma infinidade de gente ainda não usufruiu da dignidade de ter um emprego.
Nós temos uma falha incorrigível de não saber reconhecer e um grave defeito de não agradecer.
Falta-nos a sacra humildade da genuflexão ao merecimento.
Sequer percebemos que Deus nos livra dos invejosos, dos desestruturadores da paz e dos destruidores dos laços familiares – às vezes eles estão do nosso lado, nós nem percebemos.
Talvez, numa esquina qualquer, volvemos os olhos à realidade e percebamos o quanto fomos obtusos. Sempre há tempo para mudança.
Não custa, então, exercitar, de logo, a serenidade de espírito. Um pouco de boa vontade, de tolerância, de humildade, é um bom começo.
Façamos antes que o turbilhão da dor e do desgosto encontre pálio no nosso âmago angustiado.
É possível trocar a lágrima pelo sorriso, a mágoa pelo perdão.
Experimente.
Por: Milton Oliveira – Advogado e Escritor