Apesar de fugir do debate eleitoral de 2014 e pregar o apoio ao Governo da presidente Dilma Rousseff (PT), o governador Eduardo Campos (PSB) não pretende pedir aos seus correligionários e aliados que evitem a defesa pública de sua candidatura presidencial. Nesta entrevista à Folha de Pernambuco, o socialista ressalta que respeita a posição dos simpatizantes ao seu provável projeto nacional. “Eles respeitam minha posição e eu respeito a deles”, resumiu Campos. O gestor ainda garantiu que as muitas disputas eleitorais pelo País travadas entre socialistas e petistas não foram suficientes para deixar mágoas ou constrangimentos, pelo menos da parte do PSB. “O que queremos é que os partidos se entendam. Todos precisam ter ação solidária. Governamos juntos Brasília, governamos juntos no Estado”, destacou.
Como o senhor viu as últimas denúncias envolvendo o ex-presidente Lula (PT) no caso do mensalão?
Eu já falei sobre esse tema várias vezes. Não tem muito o que acrescentar. Estamos chegando ao final do ano, o presidente Lula teve um ano muito duro, muito difícil. Se coloque numa posição de alguém que enfrentou um câncer, um tratamento duro, quase que insuportável e agora ser vítima de acusações sem provas. Um condenado pela Justiça, tendo tido todos os fóruns para entregar documento, evidências ou provas do que ele acusa e acusa o presidente Lula sem nenhum prova. Entre a palavra de um condenado a 40 anos na Justiça e um homem que fez pelo povo brasileiro, sobretudo para os mais pobres, o que Lula fez, indica o bom senso que a gente possa ficar com o bom senso. E que a gente possa desejar um Natal de paz e um bom ano de 2013. Esse País já mostrou que tem Polícia Federal ativa, competente e capaz, Ministério Público que não engaveta mais, como se fez em outros momentos da República, e tem Judiciário que exerce sua função, que possa fazê-lo com toda tranquilidade. Eu sei que o presidente Lula é um homem público que merece respeito da nação brasileira.
O senhor faz críticas à política econômica do Brasil, que vem de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e que Dilma está dando continuidade. Seu discurso é crítico. Houve erros ao longo desses últimos anos e isso está culminando nas mãos de Dilma?
O que é que eu tenho dito? Nós estamos vivendo e temos que ter consciência do que estamos vivendo porque se a gente não tem um bom diagnóstico não vai ter bom tratamento, isso vale para Saúde, Economia, para tudo na vida. Nós estamos vivendo a maior crise do capitalismo global, que está derretendo dois blocos importantes da economia mundial. Da União Europeia, caíram 11 governos. Países que tinham um esquema de seguridade social completamente distinto do nosso estão regredindo. Você pega um país como a Espanha com 27% de desemprego, e o Brasil com 5,5%, essa é a realidade. Vai para os Estados Unidos da América, sai de uma eleição sob ameaça de um abismo fiscal obrigando um debate entre republicanos e democratas. Na Europa, partidos das mais diversas tendências ideológicas fazendo governo de salvação nacional. Na China depois de 20 anos crescendo a dez, a China muda o governo, refaz linhas estratégicas do seu desenvolvimento para crescer mercado interno e reduz em 20% o ritmo de crescimento econômico. Isso é pouco relevante? Não. Entender esse ambiente é que vai dar possibilidade de a gente ter êxito ou não, e não ficar resumindo esse debate em “2014 fulaninho vai ser candidato”.
Mas, em relação à economia do Brasil, qual o grande problema que está nas mãos da presidente Dilma?
O que você tem? Um ambiente externo dessa magnitude. A presidenta tem feito as mesmas políticas que todos esses governos fizeram em momentos de crise, que é fazer a desoneração. E mais. Ela começou a mexer em coisas que outros não mexeram. Em juros, em trazer uma redução na energia elétrica, que tem importância para o custo do Brasil, mudar marcos regulatórios de uma série de setores. O que é que isso em um determinado momento passou? É o fato e uma versão. A versão é de que está havendo mudança demais e gerou certa insegurança aos investidores. É o que está dito nos jornais e poderia ter alteração nos fundamentos macroeconômicos. Tenho dito que não vai haver cavalo de pau. A presidente tem responsabilidade, tem compromisso com uma condução responsável da economia brasileira. Em 2011, (as medidas adotadas para enfrentar a crise) se pode dizer que pode ter surtido algum efeito positivo, quando no momento crítico como este que nós vivemos, houve uma ideia de que inflação estava se instalando de volta e houve medidas de contração do crescimento que pode ter feito o crescimento cair mais do que deveria no segundo semestre de 2011 e primeiro semestre desse ano. Mas nada que explique o resultado que estamos tendo no PIB deste ano. O que explica esse resultado é o quadro internacional de larga proporção. Como a gente vai sair dele? Ajudando Dilma.
Mas e o desgaste da imagem da presidente?
A imagem dela está bem avaliada. Agora dizer que não é importante para o País e para a imagem dela ganhar 2013, é outra coisa. Esperamos que ela tenha um bom 2013 e nossas posturas como aliado, membros da base, como companheiros e como quem torce pelo País, é ajudar a ganhar 2013. Se ela ganha 2013, ganha 2014.
O senhor concorda com a reportagem da “The Economist” que criticou a política econômica do País e sugeriu, inclusive, a troca do ministro da Fazenda, Guido Mantega?
Quem faz a troca de ministro é a presidente, não é nenhum articulista de nenhum veículo. Ele pode dizer o que acha, mas não é ele que faz. Agora, a visão que está no “The Economist” sobre as mudanças é a visão que está na grande mídia brasileira, na necessidade de deixar claro que a mudança no conjunto macro não é mudança nos fundamentos da economia. Ou seja, quando as ferramentas antigas foram sacadas, mas elas não foram suficientes e sacou-se novas ferramentas e se fez isso uma vez muito próxima uma da outra. Por isso, talvez não tenha havido tempo para fazer o diálogo necessário, a conversa com todos esses setores, passou-se a impressão de que as coisas podem ser feitas de maneira a vir afetar os fundamentos macroeconômicos que estão presidindo a economia brasileira desde o Governo Fernando Henrique.
Sobre a redução dos repasses da União para os estados (FPE) e municípios (FPM), o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) realçou que esse seria um dos piores momentos, que o PT está fazendo com que os prefeitos e governadores peçam esmola. O senhor concorda com isso?
Nós temos que fazer um debate sobre a federação brasileira. Isso eu falei no congresso do partido e falei porque estamos estudando esse tema. O que é que acontece? O Brasil construiu uma federação aos trancos e barrancos, com todas as dificuldades. Nós temos países com muito mais anos que a gente e conseguiu por de pé uma federação com unidade na língua, com pensamentos, sem divisionismos, como o Brasil construiu. Então, temos uma federação construída, mas ela é imperfeita. Toda vez que tem democracia, se democratizou os meios e o poder para a base, para municípios e estados. Toda vez que faltou democracia se concentrou poder e se tirou competência. O Constituinte, em 88, pensou em fortalecer municípios e estados e anunciou isto na repartição dos tributos, na competência aos municípios. Nós somos um dos dois países do mundo que reconhece município como ente da federação. Mas a Constituição de 88 coincidiu com crise econômica sem precedentes. Essa crise exigiu uma série de mudanças, que foram desfazendo a intenção do constituinte, concentrando na União recurso e competências. De maneira que a União passou a ter capacidade de legislação concomitante com municípios e estados e a Lei Federal é maior que a estadual e municipal. Quais eram os argumentos usados pela elite brasileira? Que era crise, tem que ajustar os bancos, tem que tirar os investimentos, que a governança é precária nos estados, que os municípios só têm gestor que não sabe de nada e com isso vamos garrotear aqui e gerar equilíbrio brasileiro.
E sobre o atual cenário?
Hoje a realidade é outra. Quem mais investe no Brasil são estados e depois municípios. Hoje tem muitos casos de êxito de gestão municipal e estadual. Porque a política, a democracia, os órgãos de controle, a Imprensa livre, tudo isso vai ajudando a melhorar a vida e a governança. Se é preciso investimento para sair da crise, se teve um papel importante para Brasil crescer, todo mundo sabe que o investimento vai ter papel estratégico na saída desse momento da crise. Se não desconcentrar a renda para estados e municípios você não vai ter esse efeito. A mesma lógica que melhorou consumo. Como? Com crédito para o consumidores, com emprego, com mais rede de proteção social, isso bombou o consumo, sobretudo em áreas como a nossa, que ainda há exclusão. Se a gente quer bombar o investimento, de um lado tem que fazer com que o investimento privado tenha mais fonte de investimento no mercado, dá tranquilidade aos poupadores externos que não têm onde botar dinheiro, dizer que pode vir para o Brasil e que aqui é seguro. E de outro lado, para o investimento público acontecer tem que descentralizar, porque a União não investe diretamente, ela precisa do braço dos municípios e dos estados para investir. Como é que você vai conseguir alavancar investimentos públicos com a queda da receita que está tendo em municípios e estados? Não vai. É um debate necessário que a gente vai ter que fazer com o Governo Federal e não deve ser feito com recorte de governo e oposição, porque tem gente governando estados e municípios de tudo que é partido. Nós encaminhamos ao Governo Federal a perda de todo os estados. Pernambuco perdeu R$ 633 milhões e ficou em quarto lugar.
O que poderia ser feito com esse recurso?
Esses recursos seriam usados na Lei Orçamentária. Mesmo com um ambiente como este, vamos ter um ano de maior investimento em Pernambuco, com R$ 3 bilhões, quatro vezes mais do que a média histórica. Temos a menor taxa de desemprego, que foi reduzida a 50%, estamos chegando a perto dos 540 mil empregos gerados. Tudo que a União precisa é que os estados tenham condições de fazer isso. Foi fácil? Não foi fácil. Mas nós perdemos o equivalente a mais de uma folha. Consolidamos coisas importantes, está ai o segundo estaleiro, pronto para no primeiro semestre cortar chapa, iniciou-se a fábrica da Fiat, consolidamos os investimentos que estavam contratados, nenhum foi cancelado, mas a gente precisa que em 2013 o Brasil cresça para gente seguir esse rumo.