Chuva causa mortes, deslizamento de barreiras e alagamentos no Grande Recife
Cinco pessoas morreram em razão das chuvas que atingem a Região Metropolitana do Recife desde a madrugada desta quarta-feira (24), segundo o Corpo de Bombeiros. O temporal também derrubou barreiras e árvores, e causa diversos pontos de alagamento, que dificultam a circulação dos ônibus. Em escolas municipais, as aulas foram canceladas. (Veja vídeo acima)
As mortes registradas pelos Bombeiros ocorreram na Estrada do Passarinho e em Águas Compridas, em Olinda, e também no bairro de Dois Unidos, no Recife. Na Estrada do Passarinho, as vítimas do deslizamento são um homem de 69 anos e uma mulher de 63. As idades das outras vítimas não foram divulgadas.
Em Jaboatão dos Guararapes, sete barreiras deslizaram. Segundo a prefeitura, ninguém ficou ferido, mas as famílias precisaram deixar suas casas. A Defesa Civil pode ser acionada, no município, pelos telefones 0800 281 20 99 ou (81) 9 9195 6655.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que foi acionado para socorrer feridos, também registrou deslizamento de barreiras no Córrego do Abacaxi, Estrada do Passarinho e no Alto Nova Olinda, em Olinda; na Rua do Bosque, em Paulista, e em Caetés, Abreu e Lima.
No Recife, a Defesa Civil do município informou pouco antes das 8h desta quarta (24) que, em seis horas, foram registrados 101 mm de chuvas. O volume corresponde a oito dias, segundo a média histórica para o mês de julho de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
De acordo com a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), as chuvas no Grande Recife e Zona da Mata devem diminuir de intensidade, mas persistem durante todo o dia. Na terça (23), a Agência havia renovado o alerta para chuvas moderadas a fortes nas duas regiões.
Barco e trator para locomoção
Devido aos alagamentos na BR-101, no bairro da Guabiraba, na Zona Norte do Recife, o enfermeiro André Cavalcanti pagou R$ 10 para atravessar a rodovia e conseguir chegar a Igarassu, também na Região Metropolitana.
Em Olinda, os moradores do Residencial Jardim Olinda, no bairro de Casa Caiada, contam que foram acordados por volta de 1h30 e orientados a retirar os carros da garagem para a água poder escoar. No mesmo bairro, moradores usaram um barco para se locomover. (Veja vídeo abaixo)
Moradores usam barco para conseguir transitar no bairro de Casa Caiada, em Olinda
Alagamentos
Às 5h30, a Rua Manoel Bandeira, onde fica o edifício, ficou completamente alagada. A água cobriu parte dos veículos. Quem mora nos apartamentos mais baixos do Residencial precisou contar com ajuda para subir os móveis.
Ainda em Olinda, na Cidade Tabajara, cerca de 20 ônibus faziam uma fila sem conseguir transitar. Caminhões, caminhonetes e carros comuns também estão parados nos acostamentos para não arriscar a travessia.
Imagens enviadas para o WhatsApp da TV Globo mostram a Rua Olegário Mariano, na mesma cidade, completamente alagada. O nível da água chega até metade dos veículos. Segundo moradores da Rua Caetano Ribeiro, em Casa Caiada, a água no nível da cintura deixa as pessoas ilhadas em suas casas.
No Recife, a Rua Carneiro Vilela, no bairro da Encruzilhada, a Rua Teles Júnior, nos Aflitos, e a Rua Estrela, no Parnamirim, todas na Zona Norte do Recife, são algumas das vias alagadas.
O analista de tecnologia da informação Gilberto Santos Júnior, de 39 anos, que mora há 15 anos no mesmo lugar, conta que se deparou com a Rua Nossa Senhora da Pompéia, no bairro da Encruzilhada, na Zona Norte do Recife, alagada desde as 6h.
Segundo ele, o caos no bairro não é novidade. "Sempre alaga tanto aqui na rua quanto nas redondezas. Tem um giradouro por trás do Mercado da Encruzilhada que traz muita água e lixo para esse lado", afirma.
No município de Paulista, de acordo com moradores, o nível da água na Rua Frei Caneca, no bairro do Janga, chega até o joelho. Os moradores não conseguem sair de casa.
Problemas de mobilidade
No Terminal Integrado Pelópidas Silveira, em Paulista, passageiros que aguardam transporte afirmam que não há circulação de veículos na manhã desta quarta (24). Segundo passageiros que estavam no local, a orientação dada pelo TI é que os passageiros voltem para casa. O G1 entrou em contato com o Grande Recife Consórcio de Transporte e aguarda retorno.
De acordo com o estudante Juan Gouveia, que saiu de Paulista, a falta de previsão de novas operações impede a chegada no trabalho, que fica no centro do Recife. "Já não tinha ônibus da linha alimentadora do meu bairro e eu tive que ir andando para o terminal", diz.
Já na BR-101, no bairro da Guabiraba, na Zona Norte do Recife, as dificuldades de mobilidade eram as mesmas para quem estava à espera de transporte público. Funcionária de um posto de saúde em Casa Forte, Lídia Moraes saiu de casa às 6h30, mas não conseguiu transporte. "Fiquei sabendo que está tudo alagado, por isso os ônibus não passam. Não sei como vou fazer", conta.
A empregada doméstica Neide Maria Reis tenta pegar um ônibus para sair da Guabiraba e chegar no bairro da Estância, na Zona Oeste do Recife. "Era para eu estar no trabalho às 7h40, mas não sei como vai ser. E a maré nem encheu... Mais tarde vai ficar ainda mais complicado", afirma.
Com os alagamentos na BR-101, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) orienta motoristas a usarem a PE-15 como rota alternativa.
Aulas
Em Olinda, Paulista, Abreu e Lima e Igarassu, as redes municipais de ensino suspenderam as aulas nesta quarta (24), em todos os turnos. Na rede estadual, o expediente foi suspenso em Olinda e em Paulista. Nos outros municípios, as diretorias das escolas estaduais devem avaliar se os locais estão seguros para receber os estudantes.
No Recife e em Jaboatão dos Guararapes, a rede municipal vai funcionar normalmente. Alguns alunos, no entanto, têm tido dificuldades para chegar às escolas.
O caminho até a Escola Mundo Esperança, no Sítio dos Pintos, na Zona Norte do Recife, está complicado para Maria Rita Nascimento, que tenta levar a neta Ruama, de oito anos.
"Eu já falei com a diretora para avisar que minha neta está atrasada. A situação é ainda mais preocupante porque eu fiquei sabendo que nem merenda vai ter para os alunos que conseguiram chegar", diz Maria Rita.
Barreiros
No domingo (21), mais de 500 famílias do município de Barreiros, na Zona da Mata Sul, precisaram deixar as suas casas por causa de alagamentos. O nível dos rios Una e Carimã subiu, invadindo ruas e imóveis. Não houve registro de mortes ou feridos. Na terça-feira (23), a maioria dos desalojados havia voltado para casa.