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CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

RAFAELCORRUPTOS, AS REGRAS MUDARAM.

Lendo com atenção redobrada a matéria “Escritório dos EUA consolida ações coletivas contra a Petrobras” vinculada em 30.03.2015 no site http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/03 cheguei a uma inédita conclusão: Antes de praticar um ato nocivo ao erário o gestor público deve levar o fato ao conhecimento da imprensa, dos investidores e da Comissão de Valores Mobiliários, caso a corrupção envolvam empresa com papéis negociados em bolsas de valores.

Fico, no entanto, com algumas dúvidas de ordem prática. Como antecipar uma ação corrupta? A comunicação será feita individualmente em coletivamente? Quem anunciará o fato o corruptor ou o corrupto?

Cheguei à exótica conclusão ao ler que segundo o escritório de advocacia Pomerantz LLP – que já havia ingressado com ação coletiva em dezembro de 2014 –, a Petrobras e seus altos executivos estão envolvidos em um esquema bilionário e com duração de “muitos anos” de “lavagem de dinheiro e pagamento de propinas que foi ocultado de investidores”. Alegam os juristas que a petroleira violou normas do mercado de capitais norte-americano e brasileiro.

Novas dúvidas. Se os executivos – entre eles os ex-presidentes da estatal Sérgio Gabrielli e Graça Foster –, dessem publicidade aos atos ilícitos seus alegados crimes seriam abrandados? A comunicação seria via “Fatos Relevantes”?

Defendo uma tese que nenhum americano, em virtudes de práticas vigorantes nos E. U. A, tem estatura moral para criticar países ou empresários que pratiquem deslizes éticos em seus negócios. Abaixo fatos reais que corroboram com minha avaliação.

Laurence G. Mcdonald – ex-vice-presidente do Lehman Brothers, em conjunto com o renomado escritor Patrick Robinson, escreveu “Uma colossal falta de bom senso”.

Referido livro traz os detalhes da crise de 2008, gerado e alimentado no seio da famosa Wall Street. Destaca a obra que dirigentes da instituição financeira foram alertados em três oportunidades diferentes, a primeira em 2005, que o “mercado imobiliário no qual estava apostando muito dinheiro rumava ao colapso”.

Em novembro de 2011 o site http://veja.abril.com.br/noticia/economia, publicou artigo sobre o caso da MF Global, corretora americana, atestando que “o colapso da corretora norte-americana MF Global Holdings Ltda afetou operações em várias bolsas de futuros” e decifrando as práticas irregulares.

Como pode ser visto “honrados” cidadãos americanos podiam evitar a crises que minaram economias pelo mundo, mas, a ganância e a prepotência mais uma vez deram-lhe poderes para decidir sobre causas mundiais. Não consegui apurar se nos dois casos o mercado foi avisado antes. Desconfio que não.

Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

RAFAEL2SEM LIMITES

Há muitos anos, um poeta amigo enviou-me um CD de um caboclo da Paraíba, chamado Jessier Quirino. De cara, descobri que o arquiteto das palavras – filho da Borborema- havia criado algo diferente das coisas até então publicadas. Os principais destaques eram: “Vou-me embora pro passado” e “Comício de beco estreito”.

Posteriormente, conheci o autor em programas televisivos e, pessoalmente, em um evento do Banco do Brasil, em Salvador (BA). Tenho, atualmente, as seguintes publicações do filho de Campina Grande: “Prosa Morena”, “Agruras da lata d’água”, “Papel de Bodega” e “Berro Novo”. O segundo tem a seguinte dedicatória, datada de abril de 2003: “Para Ademar, uma lata d’água encabrestada na nordestinidade matuta.

Esta crônica com certo atraso apresenta a leitura que faço sobre este artista nordestino que, com vocabulário extraído do cotidiano da “mututice”, encanta todos que têm acesso aos seus trabalhos.

Na orelha de “Berro Novo”, com a sua reconhecida eloquência, Bráulio Tavares, entre outras ponderações, escreve: “O que distingue o matuto (e nisso a poesia de Jessier é exemplar) é a sua capacidade fabulatória de criar historinhas do nada, e alegorias a partir dos menores acontecimentos…”. Como na obra de Quirino transbordam tais alegorias, sua riqueza cultural é sem limites.

Da mesma forma que Jorge Amado e Dias Gomes imortalizaram dizeres e personagens regionais, Jessier imortalizará suas “crias” e o linguajar que traduz o pensamento de cada um deles, disto não tenho nenhuma dúvida.

Os personagens “Mané Cabelim”, “Biu das Quenga”, “Severino Abufelado” e tantos outros quando forem levados para o cinema ou para seriados da televisão, ocuparão espaços com a mesma intensidade que “Zeca Diabo”, “Odorico Paraguaçu” e “Vadinho” ocuparam.

O diálogo “Sabatina feita com um matuto presidente de banco de feira”, inserido no livro “Prosa Morena”, é um texto tão verdadeiro e completo que deveria ser lido todos os dias nas escolas e por nossos governantes.

Tenho uma ligeira desconfiança que a prática utilizada por Jessier Quirino de juntar um CD a cada livro, foi a forma encontrada para que os analfabetos pudessem ter acesso as suas produções e é derivada do método empregado pelos vendedores de cordel que liam os folhetos nas feiras livres do Sertão.

Ler ou ouvir Jessier Quirino, é conviver com a sabedoria do sertanejo recitada em formato único, cujos detalhes são observados com uma densidade

incomum a linguagem que, de forma sutil, ultrapassa o convencional. Tudo é “cagado e cuspido paisagem do interior”.

Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

RAFAELCICLOS DE MAVIAEL

No Sertão do Pajeú os raios da poesia caem várias vezes no mesmo lugar, Maviael Melo demonstra isto na produção o livro “Ciclos”. A obra contém diversas particularidades, uma delas é que foi escrita deitada, no formato de uma “cerca rabiada” e é protegida por uma capa mais grossa do que “papel e enrolar prego”.

Nas apresentações o poeta Esio Rafael destaca a carga cultural muito forte das pessoas nascidas nas imediações do lendário rio pernambucano; o escritor Luiz Berto afirma que o autor é um nordestino de múltiplos talentos que trata as palavras com maestria, mesmo sendo um presepeiro e o irmão Maciel Melo relata que conhece a poesia de Maviael desde a época que balançava sua rede. Tais registros entendem-se nas largas veredas do reconhecimento.

O livro traz a marca da região ao retratar de forma esplendida o nosso jeito de produzir coisas belas. O poema “Orientações” é uma peça que pode ser apresentada em um encontro de jovens ou de avós, as lições ali assentadas servem para reflexão e mudança de pensamentos em todas as idades.

Na trilogia “Define-se, Conspira o universo e Olha o passado” o autor partindo de “eu sou”, “eu serei” e “eu era”, respectivamente, compõe versos em um jogo de palavras capazes de mexer com as folha de um dicionário a mil quilômetros de distância, coisa de “menino marrento”.

Em “Vem de todo jeito” o poeta encerra a segunda estrofe com a quadra: “O amor tá no ato de acordar/E também pela noite ele adormece/É a fé proclamada na quermesse/A oração do menino ao se deitar”. Para uma arrumação desta só cabe uma frase: “Isto vale um abraço”.

A mescla entre o sagrado e o profano remete a atenção de quem ler o livro para “ciclos intermináveis” que cabem coisas desde: “O meu MINUTO Maria/Da prece feita às seis horas/Sempre dizendo: Se oras/Serás feliz todo dia/Meu MINUTO POESIA/Seguindo sempre ao seu lado/MINUTO abençoado/O meu MINUTO feliz/Minha mãe, minha matriz/O meu MINUTO SAGRADO”, até: “Quero teu fruto gerado/Na harmonia de um verso/Numa poesia eu te acesso/Pra compassar o bailado/Quero teu corpo suado/Fogosa, doce e singela/Entre o luar da janela/Gemidos solos no ar/Eu quero em fim te amar/Pintando a nova aquarela.”.

Registra também a coletânea um punhado de inquietações com os modelos postos pelos que se julgam donos do mundo. Maviael através dos poemas “Abrindo um novo caminho”, “Estamos, não somos” e “Apesar de tudo”, convida-nos ao mundo mágico das reflexões com a sutileza extraída somente nas indignações dos poetas.

A publicação traz ao final um duelo de poesias entre Maviael Melo e Sérgio Sá, construído pelos caminhos virtuais com estilos diversos da cantoria nordestina. Os “Sete linhas”, “Galope a beira mar”, “Gabinete”, “Martelo alagoano”, “Quadrão trocado”, “Dez pés” e “Décimas” são apresentados com características de um autêntico pé-de-parede.

Novamente um neto dos Pedros Gídio e Louro eleva o nome de Iguaraci.

Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

RAFAELGANGORRA.

Em 2000, a pedido de uma professora de português em Barreiras – Bahia, escrevi um ensaio monográfico sobre o setor agrícola no Oeste baiano.

A inspiração para o texto surgiu do ditado popular “Na briga entre o mar o rochedo quem morre é o siri”. O mar, representando o competitivo mercado de grãos, lutava bravamente pela redução de impostos, via incentivos fiscais; o rochedo, no papel do Estado defendia sua enorme carga tributária e o siri na pele do produtor pagava a conta.

Após quinze anos voltei à região e encontrei a ”mesma música” tocando. Isto é, nada mudou. As esmagadoras, os exportadores, os produtores de insumos e os especuladores (mar) continuam buscando mecanismos para redução de seus custos e aumento dos lucros; a União, o Estado e os Municípios (rochedo) afiaram suas “garras tributárias” e os agricultores (siri) permanecem assumindo os riscos e continuam reféns do sistema perverso.

Nos dias atuais, de cada dez grãos de soja produzidos no mundo cinco são consumidos pela China e nesta condição os chineses aplicam as regras do mercado mundial e pouco estão preocupados com os estragos nos bolsos dos agricultores.

As condições de pagamento e os preços dos insumos são definidos pela indústria e o preço da soja é atribuído pelos compradores, via bolsa de Chicago. Os agricultores ficam no meio, seus lucros dependem de variáveis sobre as quais eles não exercem qualquer ingerência. Enfrentam bravamente os riscos com estiagens, pragas, relações trabalhistas, escoamento, variação cambial, juros, restrições ambientais, impostos, entre outros.

As esmagadoras e as exportadoras recebem os grãos em suas unidades fabris e nos portos e com riscos infinitamente menores ganham muito dinheiro. Repassam aos agricultores todos os encargos via preço liquido pago.

Durante a minha estadia no Oeste baiano visitei uma área de soja já com os grãos formados. Enquanto contornávamos a lavoura o agricultor desceu do veículo e constatou a infestação de uma praga cujo combate teria que ser imediato sob pena de comprometer a produção.

Como em condições normais neste estágio da planta os únicos custos previstos seriam com colheita e escoamento, o ônus da aplicação do defensivo reduzirá a estreita margem de lucro. O agricultor, diferente da indústria, do comércio e do atravessador, em hipótese alguma repassa para o preço do seu produto os custos extras. Este é o mundo que habita o produtor neste país: para manter o nível de produção que garanta a margem de lucro desejada, enfrenta adversários poderosos no universo real (mar e rochedo),virtual (bolsa de Chicago e mercado de capitais) e da natureza (clima e pragas).

Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

ADEMARRONIPOR QUE NÃO OUVIMOS O “REFORMADOR”?

Os governantes brasileiros têm a mania de gritar em alto e bom som que construíram milhares de creches e de escolas com arquitetura de vanguarda e equipamentos de última geração. Preocupam-se com a “casca” e esquecem
totalmente o “miolo”, este sim, carente de atenção.

Prédios e computadores podem contribuir com condições de trabalho, mas isoladamente não geram conhecimentos. No entanto, como os fornecedores de bens e serviços precisam de bons contratos para financiar as campanhas
eleitorais gastos com a estrutura física ganham espaço em cada governo.

Quando mergulhamos nas vinte metas do Plano Nacional de Educação – PNE-2014/2020, encontramos as palavras “massificação” e “inclusão” diversas vezes. O texto é lindo; a prática, não tem a mesma aparência.

Martinho Lutero, nas primeiras décadas do século XVI, conforme narra o livro “Lutero & a Educação”, de José Rubens Lima Jardilino sugeriu que sua Alemanha utilizasse um sistema universalizante de escola básica que contemplasse também a preparação para o trabalho. Entendia o “reformador” que aos pais caberia a formação espiritual e o Estado seria responsável pela instalação, sustentação e controle da escola pública, gratuita para todos.

Em 1524 escreveu Lutero aos governantes: “… o progresso de uma cidade não depende apenas do acúmulo de grandes tesouros, da construção de muros de fortificação, de casas bonitas… o melhor e mais rico progresso para uma cidade é quando possuem muitos homens bem instruídos, muitos cidadãos ajuizados, honestos e bem educados.” É muito triste constarmos que após 193 anos da nossa independência, fomos capazes de aprender os “modismos” da França, o “consumismo” dos Estados Unidos, mas não tivemos a capacidade de absorver os ensinamentos luteranos.

Entendemos caros leitores e leitoras que é pedir muito aos brasileiros para que de uma “lapada só” aprendam, tenham juízo e sejam honestos. Uma coisa de cada vez cria embaraços, imagine as três coisas, simultaneamente.

Se o sistema educacional que vigora em nosso país assumisse a receita de Lutero, levaríamos em torno de trinta anos para gerar uma sociedade dotada dos adjetivos recomendados pelo “reformador”, há 49 décadas. Isto, com
certeza, impediria que os procuradores e os juízes fossem as estrelas da companhia, uma vez que a corrupção perderia espaço para outros valores defensáveis.

Outro fato interessante é que em 2014 o Ministério da Educação bancou a publicação “O Sistema Nacional de Educação: diversos olhares 80 anos após o Manifesto”, ondeCélio da Cunha, Moacir Gadotti, Genuíno Bordignon e Flávia Maria de Barros Nogueira fazem referência ao “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932”, no qual Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira, Paschoal Lemme, Cecília Meireles apresentaram sugestões convergentes com
o pensamento de Lutero, com o jeito brasileiro de ser e as adaptações julgadas pertinentes por aqueles pensadores.

Talvez em 2032 seja o caso de publicar algo novo na comemoração de cem anos do “manifesto” e esperar, isto sabemos fazer como ninguém.

Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

RAFAELEXEMPLOS A SEREM SEGUIDOS

Trabalhei no estado da Bahia, nas cidades de: Luís Eduardo Magalhães (set./1998 a mar./2001); em Serrinha (abril 2001 a abril de 2002) e em Vitória da Conquista (dez.2005 a dez./2007) e, em fevereiro-2015, retornei àquelas cidades para rever amigos e atestar o crescimento de cada uma.

Luís Eduardo Magalhães, Mimoso do Oeste na época que por lá aportei, com a força natural das fronteiras agrícolas deixou de ser o distrito de Barreiras, com menos de vinte mil habitantes, para transformar-se numa cidade com algo em torno de cem mil moradores.

A pujança da região ignora o estágio de letargia que passa o país: os obstáculos são enfrentados pelos produtores rurais com a mesma intensidade que eles são atacados pela turma de Marina Silva, com a diferença que os produtores geram alimentos e renda para o Brasil.

Serrinha, não obstante a sobra de Feira de Santana, firmou-se como cidade referência na região do sisal e por centralizar o comércio naquela parte do Sertão baiano, em janeiro último assistiu a inauguração do “Shopping Serrinha”, empreendimento sob administração da empresa Enashopp, com atuação em outras cidades do Nordeste.

Ver o crescimento sócio econômico da cidade que acolheu Vicente Barreto, autor de “Morena Tropicana”, é tão salutar quanto ouvir a música na voz de Alceu Valença. Este crescimento prova que com trabalho e foco nas particularidades regionais os nossos empreendedores merecem muito mais atenção do que os nossos governantes.

Vitória da Conquista é a mais importante cidade do Sudoeste baiano e da região Norte de Minas Gerais e tem transformado este potencial em atração de altos investimentos, com geração de saberes e renda.

Hoje, além da cultura do café, a cidade representa um grande centro educacional; tem uma das maiores ofertas de serviços médicos de média e alta complexidade do Nordeste e motivada pela localização privilegiada apresenta-se como importante eixo de integração entre as regiões Sul e Sudeste x Nordeste, com larga estrutura de logística integrada.

Nas três cidades, o setor imobiliário está em evidência e a instalação de novas plantas comerciais, industriais e residenciais sugere que a situação perdurará por alguns anos. Na visita recentemente realizada encontrei além dos amigos as cidades em melhores condições que as deixei.

Ao escrever “O nordeste que deu certo” há mais de vinte anos, o nosso conterrâneo Magno Martins destacou fenômenos similares, pena que muitos continuam com a ilusão que no Nordeste só tem fome e analfabetismo.

Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

ademarBELO PRESENTE

Sou defensor do modelo cooperativo para superar dificuldades e particularidades de setores desprovidos de mecanismos próprios, como é o caso da agricultura familiar. Por isto em 2008, quando deixei o emprego no Banco do Brasil, passei a atuar no projeto da COOPASUP –Cooperativa Mista Agropecuária dos Pequenos Agricultores do Sudoeste da Bahia – instalada em maio de 2005. No primeiro momento a atuação foi em forma de estágio obrigatório do curso de Administração; depois, como consultor.

Referido projeto, narrado de forma detalhada no livro “Negócios Solidários em Cadeias Produtivas – Protagonismo Coletivo e Desenvolvimento Sustentável”, de autoria do pesquisador Luiz Eduardo Parreiras, teve como principal objetivo trazer alento para os produtores de mandioca, oriundos de Sindicatos dos Trabalhadores Rurais da região,vinculados aoMST – Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, CPT – Comissão Pastoral da Terra e MPA–Movimentos dos Pequenos Agricultores.

Em sua fase embrionária, o projeto contou com participação ativa da Fundação Banco do Brasil, EMBRAPA, SEBRAE, UESB – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, ASA – Articulação do Semiárido, Prefeituras e Agências do Banco do Brasil entes outras entidades públicas e privadas. Boa parte destas instituições estão atuando na empreitada até os dias atuais.

Foram muitas batalhas cerradas com organizações públicas e privadas que não viam o projeto com bons olhos, com a desconfiança dos fomentadores de recursos e com o ineditismo do empreendimento que interferia na cadeia produtiva da mandioca, nas etapas de escolha das mudas, preparo de solo, plantio, colheita e produção de fécula de mandioca em indústria a ser instalada e administrada pela COOPASUB.

O importante é que a persistência venceu. As dificuldades foram insuficientes para reduzir a garra das pessoas envolvidas com o empreendimento, com destaque para Izaltiene e Luiz, produtores rurais que largaram suas atividades e dedicaram-se integralmente às atividades da Cooperativa, sempre contando com as orientações do baiano Dácio e de outros brasileiros, prepostos das organizações acima mencionadas, com vocação para as causas sociais.

Em fevereiro último retornei à região de Vitória da Conquista e ao ver a planta industrial instalada no Povoado de Corta Lote, às margens da Rodovia BR-116, vibrei com a conquista dos cooperados. Quem duvidou da capacidade deles errou na avaliação. Foi, de fato, um grande presente para este entusiasta. Os impactos negativos sobre a atividade, promovidos pela longa estiagem, não impediram a produção da indústria nos anos 2011, 2012, 2013 e 2014. Fico sem entender porque exemplos como este da COOPASUB não entram na pauta do noticiário dos grandes jornais e das redes de televisão aberta.

Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

ademarJORRO DE MENTIRAS

Toda vez que a grande mídia produz manchetes sobre o mercado afirmando que ele “aceitou ou não aceitou” tal medida, pode ter certeza que tem um especulador ou um grupo de especuladores bancando o noticiário.

Ao indicar o nome de Aldemir Bendine para presidente da Petrobrás, a Presidente Dilma viu pipocar notícias sobre o desencanto do mercado e dos investidores com a escolha do executivo, oriundo do Bando do Brasil.

Bendine assumiu a presidência do maior banco do país em um momento de extrema dificuldade para a instituição. Seu antecessor bateu de frente com o Palácio do Planalto, ao negar-se atender determinação do Presidente Lula de que para enfrentar a crise mundial e incentivar o consumo no Brasil, insistia na aplicação da perigosa receita: oferta abundante de crédito e redução dos juros.

Em meio às críticas, o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, estrela do governo tucano à época das privatizações, afirmou: “Neste momento o que a Petrobrás menos precisa é de quem entende de petróleo, o problema é financeiro e um homem de finanças pode ser a solução”.

A fragilidade atual do governo forneceu o ambiente propício para as criticas e os especuladores financiaram o movimento, mas, em outros momentos, pessoas estranhas ao mundo do petróleo ocuparam a presidência da estatal.

O presidente Médici nomeou para Petrobrás o General Ernesto Beckmann. Geisel, que enfrentou a famosa crise do petróleo no início da década de 1970, saiu-se tão bem que foi escolhido para assumir a presidência da República, em 15.03.1974.O Príncipe FHC foi mais além e entre outros nomeou para estatal do petróleo, economista e banqueiro Francisco Roberto André Gros e –pasmem- o francês, nascido em Paris em 1949, Henri Philippe Reichstul graduado em economia e administração de empresas.

Como pode ser percebido, a balela “aceitação do mercado e dos acionistas” não encontra lógica no mundo real; advém do mundo da especulação. O problema transita ainda no universo petrolífero que é controlado pela turma do turbante das arábias, sob olhar inerte da OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo, tão manipulada quanto a ONU – Organização das Nações Unidas.

Os reais problemas da Petrobrás são a falta de vergonha dos controladores dos mais importantes processos da estatal e as obrigações assumidas por força da Lei 9.478/97, a chamada Lei do Petróleo, que acoberta a remessa de lucros gerados na imensa riqueza do petróleo para especuladores internacionais. A convivência de tal regra com a Lei das Licitações a 8.666/93, é complicada. É o mesmo que engessar um pé e disputar uma corrida de cem metros com o jamaicano Usain Bolt. Burocracia e competitividade para andar juntas criam arestas e nas arestas os corruptos e corruptores deram as cartas.

O novo presidente da Petrobrás deveria suspender todas as verbas publicitárias da empresa, uma vez que, a mesma mídia que sangra a estatal com gordas cotas, escreve contra seus interesses jogo duplo sacana e imoral.

Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

RAFAELOUTRA CIDADE?

Sem qualquer resquício de dúvida, Afogados da Ingazeira é uma cidade com poucas características da cidade que deixamos em janeiro de 1982. Comprovamos esta tese ao visitarmos a “Princesa do Pajeú”, em janeiro.

Hoje, Afogados dispõe de farta oferta de serviços médicos e odontológicos, seu comercio é diversificado e existem lojas caracterizadas com “layout” de vanguarda, inclusive algumas franquias.

É saudosismo sem sentido buscar hoje o que deixamos há três décadas. É possível que os gostos atuais sejam diferentes dos “nossos”, no entanto, a leitura correta é saber que estamos em outra época; as ofertas surgem de acordo com as necessidades, é a evolução natural. Para alguns, evolução para baixo, que não é o nosso caso. Citamos nesta abordagem dois eventos realizados durante e período que estivemos na cidade:

Nos dias 09 a 11.01.15 houve a “Afogareta” ou “Arerê”, carnaval fora de época, que segue à risca o jeito baiano de fazer festas de rua. Podemos até não concordar com a “qualidade musical”, mas, daí dizermos que não é uma grande manifestação popular, a distância fica do tamanho da animação dos foliões.

De 15 a 18.01.15, a cidade recebeu os “Dragões do asfalto” no 14º Encontro de Motociclistas. Neste evento, além da exposição das máquinas, destacamos a contagiante animação dos motoqueiros. O fato de uma das atrações musicais ter apresentado um autêntico forró pé-de-serra deu ao encontro um gosto de “sertão nordestino”. Se a Rota 66 é musicada com ritmos americanos nada mais justo que no sertão do Pajeú tocarmos nosso forró de raiz.

Esta é cidade do século XXI, precisamos nos adaptar a ela. Criticar sua forma e seu conteúdo é malhar em ferro frio. Cabe, no entanto, um lembrete para reflexão. Mariana, artesã de mão cheia e torcedora símbolo do Barcelona de Magno Martins, ao ver a festa do centenário de Lourival Batista, nos dias 02 a 06.01.15, em São José do Egito, fez o seguinte comentário: “Ademar quando Afogados da Ingazeira fará algo parecido para em favor de figuras ilustres que aqui nasceram?”.

A neta de Guaxinim tem razão. A “Princesa do Pajeú” é descuidada com seus filhos. Poucos, na geração atual, sabem quem foi Guardiato Veras, Possidônio Gomes, Bernardo Ferreira, Dinamérico Lopes, etc. Jamais poderemos permitir que as gerações futuras não saibam que Deinha, Maria Dapaz e Yane Marques gravaram e continuam gravando, no caso das “meninas”, o nome de Afogados da Ingazeira no cenário mundial.

Neste sentido temos que evoluir. Às figuras citadas podem ser adicionados outros afogadenses cujos feitos merecem destaque.

Por: Ademar Rafael

CRÔNICA DE ADEMAR RAFAEL

ademarTRISTE ENREDO

Em 1982 conheci a Escola do Sítio Forte, localizada na praia do mesmo nome na Ilha Grande, município de Angra dos Reis no Estado do Rio de Janeiro. Nos anos 80 referida escola que também atendia crianças das praias vizinhas, chegou a contar com trezentos alunos.

As tias Celma, Cidoca, Erlei, Fátima e Maria do Carmo fixaram residência na comunidade, trocaram experiências e deram atenção aos alunos em tempo integral. A especulação imobiliária e os novos tempos expulsaram os nativos das diversas praias da Ilha Grande para o continente e as professoras também tomaram outros rumos uma vez que os alunos foram ficando raros.

Em janeiro deste ano retornei ao local e deparei-me com a mesma escola que conheci cheia de crianças com somente dez alunos e uma única professora. Por saber que este fato tem ocorrido na esmagadora maioria das escolas rurais do Brasil outro fato chamou minha atenção. Na escola reformada em 2004 foram introduzidas grades em todas as portas e janelas.

Conversando com a antiga zeladora ouvi que o reforço exagerado foi motivado pelas seguidas invasões que a escola sofreu. Isto é, uma escola sendo seguidas vezes invadida na calada da noite e os objetos de valor sendo subtraídos por meliantes.

Como admitir que um ambiente onde é prestado um serviço de alta relevância para comunidade seja assaltado rotineiramente? Sabemos que a escola é a principal concorrente dos bandidos. Crianças tempestivamente instruídas resistem às convocações do mundo cão. Talvez isto motive a desconstrução do ambiente escolar por parte dos criminosos. Quanto maior o número de crianças fora da escola, maior o contingente disponível para o crime.

Mesmo atendendo os alunos somente com ensino básico a Escola Municipal Sítio Forte, que nasceu Estadual, cumpriu sua missão. Alunos daquela unidade galgaram posições de destaque no continente e os que resistiram às tentações externas saíram do analfabetismo nos bancos da instituição. Pena que o ambiente favorável, criado por ações de Brizola e Darci Ribeiro, não tenha perspectivas de volta. As atividades desenvolvidas nos anos 80 são consideradas ultrapassadas pelos modelos atuais. Enquanto isto o ensino segue rumo ao fundo do poço.

Presente na caravana a Professora Marli que participou da instalação da escola, no final dos anos 70. Os olhos da educadora brilharam ao ver a escola. Uma angústia silenciosa alcança todos e tem origem na certeza de que para ensinar é necessário empatia entre educador e comunidade. Isto, presente em passado recente, sumiu. O cuidado com a escola e a educação geradora de conhecimento a partir dos valores locais deixou de ser realidade.

Por: Ademar Rafael