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OPINIÃO DO PERNINHA

Oh quarta feira ingrata!

Parecia impossível mas, de repente, chegamos à quarta feira de cinzas, dia de ressaca e de balanço. Nos meus tempos nos referíamos ao Carnaval como a “tríade momesca”, ou seja, o Carnaval era de apenas três dias. Hoje, o Carnaval leva 7, 15, 20 e até 30 dias, como é o caso de Salvador, na Bahia. Olinda, ainda aguenta mais uma semana, tempo suficiente para aumentar a sujeira e a fedentina que toma conta das ladeiras da cidade histórica; Recife, segura até o final de semana. Que o diga o Marco Zero, com o aval da Praça do Arsenal e da Rua do Bom Jesus . Tudo depende do bolso, da disposição dos foliões e de uma forcinha dos turistas.

Justificando o título da nossa crônica, acreditamos que muitos conhecem o famoso refrão: “oh quarta feira ingrata chegou tão depressa só pra me contrariar”. Será mesmo ingrata por quê? Por que o Carnaval acabou ou por que vamos ter de encarar a realidade em que vivemos? A quarta feira de cinzas nos leva a refletir sobre o nosso comportamento. Brincamos com moderação ou houve excesso em nossas ações? Gastamos de mais ou tudo correu dentro do previsto? Fomos ou não imprudentes? Como está o nosso orçamento para encarar 2017?

Isso mesmo. É como se o ano tivesse começando agora. Durante o Carnaval as pessoas se anestesiam e caem na folia como se vivêssemos em um céu de brigadeiro. Ninguém fala em crise, não há desemprego, a economia estabilizou, o governo é sério e tudo transcorre na maior naturalidade possível. O abuso do álcool e a irresponsabilidade dão as cartas durante os “festejos de momo”. Depois veremos como é que fica.

Após o cessar dos tambores e o último carro alegórico ser desmontado na avenida, ainda sob o efeito anestésico em que estiveram metidos, os foliões se despedem com a satisfação do dever cumprido. É chegada a hora de procurar emprego, fazer empréstimos pra pagar as contas, reclamar da inflação, brigar pra baixar a conta de luz, tomar dinheiro com os amigos e parentes para comprar o material escolar dos filhos, negociar o débito com o Cartão de Crédito e parcelar o débito do IPVA.

Infelizmente, essa é a cultura do nosso povo. E o turista desavisado, pelo que enxerga, acha que vivemos num país maravilhoso. Deve ficar morrendo de inveja por não ser brasileiro. A esse ledo engano, temos que satirizar dizendo: “ah coitados! Bem queríamos que eles estivessem corretos, mas, como diz o velho ditado: “o buraco é bem mais embaixo”.

Para encerrar, vamos a uma décima que fizemos no antigo mote do nosso amigo tabirense Cicinho Gomes (in-memorian). FIZ DA VIDA UM ETERNO CARNAVAL / TERMINEI PIERRÔ DA SOLIDÃO.

Fiz teatro lancei alegorias / Fui passista famoso no começo / Hoje em dia sequer não faço um terço / Do que fiz em momentos de euforias / Veio o tempo rasgou as fantasias / O meu bloco perdeu a empolgação / Minha escola ficou sem percussão / E esqueceu o enredo original / FIZ DA VIDA UM ETERNO CARNAVAL / TERMINEI PIERRÕ DA SOLIDÃO.

Danizete Siqueira de Lima – Afogados da Ingazeira – PE – março de 2017.


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