Passados poucos dias da eleição que escolheu o novo presidente americano e, por acharmos muita lucidez no presente texto, resolvemos reproduzi-lo para os nossos leitores.
Para surpresa geral do planeta, o azarão e fanfarrão Donald Trump se elegeu presidente da mais poderosa nação do mundo com um discurso chauvinista, xenófobo e irresponsável, prometendo o isolamento da economia norte americana. Trump é, sem sombra de dúvidas, a expressão de um novo populismo e patriotismo num país desenvolvido. Investe contra a
globalização, que trouxe enorme benefício aos Estados Unidos, tanto na integração comercial quanto na movimentação e interação de pessoas e culturas, atraindo talentos e inteligência de todo mundo (vejam o Vale do Silício). Mas, diante da concorrência dos países emergentes e dos seus impactos na necessária reorganização interna e no nível de emprego, os norte americanos passaram a rejeitar a globalização (ou, pelo menos, a parte que incomoda deste fenômeno contemporâneo).
Trump ganhou a eleição prometendo romper os acordos comerciais, suspender as relações com a Organização Mundial do Comércio (OMC) e criar tarifas de importação e impostos sobre as empresas norte americanas que invistam no exterior. Como bom populista, o novo presidente dos Estados Unidos vende mentira do protecionismo para a recuperação dos empregos que teriam sido perdidos por conta da abertura e dos acordos comerciais. Mas os resultados das promessas populistas costumam ser contrários às fantasias enganadoras que mobilizam o seu eleitorado podendo, provavelmente, gerar mais desemprego e recessão no próprio país.
Com a maior economia do mundo e mercado fundamental para todos os países – PIB de US$ 17,7 trilhões e importação anual de US$ 2,35 trilhões (equivalente ao PIB do Brasil), o protecionismo Estados Unidos será devastador para a economia mundial, que ainda se arrasta na recessão. O isolamento comercial da maior nação do mundo jogaria o planeta no caos e no desastre econômico. E seria um desastre para a economia brasileira, às voltas com a recessão econômica e com seus próprios problemas econômicos e fiscais.
É possível e, principalmente, desejável que o presidente eleito dos Estados Unidos seja obrigado pelas condições legais e institucionais e pelas circunstâncias políticas e diplomáticas a trair o seu eleitorado e recuperar um pouco de sensatez na condução dos destinos dos Estados Unidos (e do mundo).
Fonte: Sérgio C. Buarque (economista e escritor).
Afogados da Ingazeira – PE – novembro de 2016.